Com ajuda de alunos, UnB oferece serviços de apoio a deficientes visuais
- Lorany Stefanny e Thallita Essi
- 20 de out. de 2016
- 4 min de leitura
Ação de colegas de aula e de equipes de apoio facilita aprendizagem de alunos como Thomás Verdi, mas luta pela acessibilidade ainda está longe de acabar

Cego de nascença, Thomás Verdi, 24 anos, começou a vida acadêmica em 2010, quando ingressou pelo vestibular para Tradução-Inglês. Agora, ele está em seu segundo curso na Universidade de Brasília (UnB). “Escolhi a segunda graduação pela vantagem de fazer dupla habilitação com Tradução-Espanhol. É uma oportunidade de ampliar meus horizontes.” O fato de o curso ser noturno também ajudou, pois assim ele concilia o trabalho com os estudos. Quando ingressou na instituição ele contava com o auxílio do Laboratório de Apoio aos Deficientes Visuais (LDV), no qual uma equipe adaptava os conteúdos escaneando textos e convertendo para word e PDF. Uma vez digitalizados, os arquivos eram lidos por um software de tecnologia assistiva. Outro serviço oferecido pelo laboratório era a Tutoria Especial, feita por colegas que cursaram ou estavam fazendo a disciplina e ofereciam apoio aos alunos cegos ou com baixa visão. Atualmente Thomás mora sozinho, com isso ele se sente mais confiante e tem muito orgulho da independência conquistada. Mas ele não ignora que o apoio que recebeu foi essencial para os ganhos obtidos. Os recursos que a Universidade possui foram criados mediante a luta dos interessados e de pessoas preocupadas com as condições de estudo dos portadores de deficiência. As principais frentes de apoio são: o LDV, o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE), a Biblioteca Digital e Sonora (BDS) e um pequeno acervo em braile na Biblioteca Central da UnB (BCE). Laboratório de Apoio aos Deficientes Visuais (LDV) Durante o último semestre os serviços do LDV estavam desativados. As atividades realizadas no bloco 5 da Faculdade de Educação (FE 5) foram interrompidas por uma reforma. Segundo a professora Sinara Zardo, atual coordenadora do laboratório, ele voltará a funcionar provisoriamente no prédio 1 a partir de novembro. Enquanto isso, ela está fazendo o levantando dos dados sobre o trabalho das gestões anteriores. O LDV foi criado por um grupo de professores e funcionários, que perceberam a necessidade da UnB de se adequar a todos os alunos. Segundo a professora Amaralina Miranda, que fez parte da equipe de criação, nos anos 1990 não existia uma cultura de inclusão, devido ao pensamento de que pessoas com deficiência não entrariam na Universidade. Hoje, a UnB tem 20 estudantes de diferentes cursos que demandam os serviços do LDV. Para Thomás e os outros alunos, este tempo em recesso está fazendo muita falta. Thomás conta que agora precisa adaptar os materiais sozinho, muitas vezes tendo que pedir aos professores os textos por e-mail. Desde sua criação, o LDV trabalha com a solicitação dos alunos. Um dos serviços prestados é a produção de material em caracteres ampliados para estudantes com baixa visão. Há também a preocupação com a capacitação e formação da comunidade acadêmica da UnB e do Distrito Federal (professores da educação básica e superior, profissionais da educação e demais interessados), orientação aos docentes e comunidade acadêmica sobre recursos e serviços de acessibilidade e extensão universitária sobre a organização de sistemas educacionais inclusivos.
Biblioteca Digital e Sonora (BDS) Thomás é cadastrado na Biblioteca Digital e Sonora (BDS), recurso oferecido pela BCE, onde estagiou por dois anos. Atualmente são 8.324 pessoas cadastradas, dentre alunos, comunidade e funcionários. A BDS oferece conteúdos gravados e adaptados para os usuários. As gravações são realizadas durante duas horas por ledores voluntários aprovados em um teste de voz. Formada em Biblioteconomia pela UnB, Gabriela Dantas assumiu a direção da BDS em agosto deste ano. Ela conta que “é preciso pensar em todas as partes do livro, como a capa, a descrição de imagens, cores e as citações”. A equipe empenha-se para que todo o material seja lido pela mesma pessoa e estabelece prioridade para as bibliografias básicas dos cursos e obras literárias. Por enquanto as gravações da BDS estão suspensas, pois a agenda está cheia. Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE)

A mediação entre aluno e professor depende de cada situação, por isso é preciso um acompanhamento individual em cada caso. É pensando nisso que o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE) fundamenta seu trabalho. Institucionalizado em 1999, no momento tem 207 estudantes cadastrados. Para assegurar a participação e a permanência dos alunos portadores de deficiência, o PPNE funciona como parceiro das iniciativas de inclusão na UnB e colabora na criação e execução de projetos como a Tutoria Especial, bastante utilizada por Thomás. Ela surgiu de forma espontânea entre os alunos, sendo hoje formalizada pela Universidade. José Roberto Fonseca Vieira, coordenador do PPNE, destaca que, apesar de existirem muitas normas que regulamentam a inclusão, tanto no mundo virtual como na sociedade, elas não são cumpridas efetivamente. Para ele, o problema está nos parâmetros usados na criação de aplicativos ou estrutura física dos espaços públicos, pois são criados por pessoas que não convivem com as dificuldades. O programa também atende pessoas com transtornos, desde que aceitos pela regulação do MEC, como dislexia e Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Ele ressalta: “O foco não é tratar as doenças, mas proporcionar condições adequadas de acesso e oportunidade na vida acadêmica”. O PPNE dispõe de um laboratório aberto para todos os cadastrados, salas que são disponibilizadas para os professores que precisam de um tempo maior para a aplicação de prova e um carro para auxiliar no deslocamento dos alunos dentro do Campus Darcy Ribeiro. O veículo não é adaptado e só funciona no período diurno. Para utilizá-lo é preciso fazer o agendamento. A prioridade é para o aluno com maior dificuldade de locomoção.
Serviço BDS O cadastro na Biblioteca Digital e Sonora pode ser feito através do site: http://bds.unb.br/cadastro.html PPNE Local: Ala Norte do Instituto Central de Ciências (ICC) Horário de funcionamento: das 8h às 18h
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