Diálogo e Ação: conheça a primeira reitora da UnB, Márcia Abrahão
- Wellington Hanna
- 3 de out. de 2016
- 3 min de leitura
Vencedora em primeiro turno da consulta para a reitoria da Universidade, Márcia deu uma entrevista exclusiva para o Campus|

No momento em que soube que a comunidade acadêmica a elegera para comandar a Universidade de Brasília (UnB), a carioca Márcia Abrahão, 52, foi direto ao bar Pôr do Sol cercada de alunos para comemorar o resultado. A foto do momento viralizou nas redes sociais. Muitos consideraram o gesto como um sinal de que a prioridade da nova gestão será de ouvir e conversar muito com os discentes e professores da UnB.
“O diálogo e o convívio com docentes, estudantes e técnicos são traços que desejo manter durante toda a gestão. Desejamos ter uma Universidade que se destaque pela excelência, mas também pela qualidade das relações interpessoais”, destaca Márcia ao Campus, confirmando que a comemoração tinha, também, um viés político.
Márcia Abrahão, juntamente com o vice Enrique Huelva, foram os vencedores da consulta para reitoria da UnB 2016/2020. Ambos compunham a chapa Diálogo para Avançar, na qual o foco, segundo a campanha eleitoral, é justamente saber conversar para conseguir o melhor resultado para a universidade.
E se para trabalhar bem o diálogo é preciso saber trabalhar em equipe, Márcia treinou isso desde cedo. Nos tempos em que ainda estudava Geologia - ela se formou na UnB -, a então futura reitora foi jogadora de vôlei pela Universidade, onde aprendeu, segundo ela, a dialogar para que “as metas sejam de fato alcançadas”. “Essa é uma grande lição do esporte: trabalho de equipe com foco na excelência”, pontua Márcia.
“A Universidade foi sempre um lugar importante em minha vida, onde eu me formei como profissional, conheci grandes amigos, e onde estou a maior parte do tempo, entre colegas de trabalho e estudantes. Valorizo muitíssimo esse espaço e considero importante garantir a qualidade dessas interações.”
De fato, Márcia parece conhecer bastante a Universidade. São quase 30 anos de UnB, considerando o período de graduação, mestrado e doutorado. E, apesar de não ter desenvolvido a habilidade política nos tempos de estudo - a reitora eleita garante que nunca participou de nenhum movimento estudantil -, ela a exercitou bastante nos tempos do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidade Federais (Reuni), o qual acredita ter sido o responsável por cativar o apoio eleitoral. “Creio que a comunidade acadêmica reconhece que, com o Reuni, está demonstrada a minha capacidade de gestão”, afirma.
Apesar de a vitória nas urnas representar a conquista de uma aluna que fez praticamente toda a vida profissional e acadêmica na UnB, Márcia considera o primeiro lugar nas eleições ainda mais especial por outro motivo: ela é a primeira mulher a comandar o cargo mais alto da Universidade desde sua criação. “A UnB coloca-se mais uma vez na vanguarda das universidades brasileiras, como fez com relação a outros temas tão importantes quanto a equidade de gênero”, celebra.
A carioca, entretanto, concorda com a frase de que grandes poderes trazem grandes desafios: “Ser a primeira mulher eleita como reitora da UnB nos oferece uma boa oportunidade para avançar, mas também aumenta muito a minha responsabilidade”, pondera. E, por isso, Márcia promete convidar mulheres da Universidade especialistas em questões de gênero para discutir uma política de “com especial atenção para o combate à violência contra a mulher”.
Sobre a gestão do atual reitor Ivan Camargo na UnB, Márcia adotou um tom bem mais brando do que o usado nas campanhas eleitorais, em que na época o acusou de se omitir em relação à segurança da Universidade. “Foi uma gestão que manifestou especial preocupação com o equilíbrio de contas da UnB e que, em alguma medida, garantiu a continuidade de políticas estabelecidas institucionalmente em gestões anteriores.” Mas pontuou que, nos últimos quatro anos, a “UnB retroagiu na execução de seu orçamento e de obras, a lentidão e a centralização administrativas atingiram níveis excessivos e os espaços de diálogo diminuíram significativamente”.
Para os próximos quatro anos de gestão, a primeira reitora da UnB acredita que encontrará uma série de obstáculos. O maior deles, segundo Márcia, é o corte no orçamento da educação anunciado pelo governo Temer no início deste semestre. “Precisamos garantir a retomada dos investimentos em infraestrutura, em um contexto de relativa escassez de recursos”, afirma.
A pedido do Campus, Márcia Abrahão gravou um áudio revelando qual será o legado que ela pretende deixar na Universidade em 2020, quando terminará o mandato da chapa.
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