TROTE OCORRE DURANTE TODO O SEMESTRE NA UnB
- Henrique Gomes
- 23 de set. de 2016
- 3 min de leitura

RECEPÇÕES MAIS INCLUSIVAS SÃO ALTERNATIVAS PARA COMBATE AO TROTE OPRESSIVO
O ingresso na universidade é um momento no qual o estudante se abre a novas experiências e compreende suas ações como coletivas para criar, desta forma, vínculo de responsabilidade social. No entanto, este momento de ingresso diversas vezes é confundido com casos de trote em que o aluno enfrenta discursos de ódio. Esses “trotes opressivos” elevam números de opressões e ferem a integridade pessoal. Para combate a esse tipo de trote, diversos cursos da Universidade de Brasília (UnB) aderem a formas alternativas para recepção de calouros.
Resultados obtidos através de recepções mais sociais e positivas geram veteranos mais conscientes e confiáveis para seus calouros, o que possibilita um processo mais amplo e consistente de integração. Consideradas por discentes, em sua maioria, como rituais necessários para a interação com o calouro, as recepções praticadas na UnB são cheias de singularidade. Com objetivos semelhantes, veteranos realizam um momento único para quem agora começa esta jornada universitária.
As recepções alternativas recebem os estudantes de forma menos constrangedora e mais inclusiva. O Centro Acadêmico de Letras (CALet) serve como referência de trote ideal para os alunos do curso. A semana dos calouros conta com piquenique, show de calouros, sarau e ações sociais, como campanhas para doação de sangue e livros. Nina Canaã, aluna de Letras Espanhol, considera importante a inclusão de forma mais confiável. Para ela, o evento possibilita a interação de veteranos, de semestres diferentes, com os novos estudantes.

O estudante de Letras Lucas Neves, 19 anos, apoia a tradição de trote, desde que seja um trote solidário.
A programação feita pelo curso de Ciências Sociais segue a mesma essência. Estudantes do curso promovem um dia de “aula-trote”, no qual um veterano substitui uma aula do calouro para dar uma lição universitária. O estudante de Ciências Sociais Emanoel Schimidt, 28 anos, deu a aula-trote neste semestre e considera o evento como um momento em que um veterano pode mostrar ao calouro que na universidade não se pode tudo e diversas situações podem ocorrer. Emanoel acredita na relevância do evento quando possibilita inquietações, por parte dos alunos, quanto a abusos gerados em sala de aula. Em sua aula-trote, Emanoel apresentou aos alunos características de um professor intransigente e reprodutor de opressões relacionadas a questões étnicas, raciais e de gênero.

O estudante de Ciências Sociais Emanoel Schimidt participou da tradicional aula-trote do curso neste semestre.
O estudante de Ciências Sociais João Marcelo Marques, 20 anos, membro do Conselho Universitário, fala sobre a posição do conselho quanto à prática do trote na UnB. O conselho repudia de forma generalizada opressões e discriminações ocorridas em trotes. João Marcelo acredita que iniciativas positivas de recepções devem ser estimuladas pela universidade. João Marcelo explica as dificuldades passadas pela universidade para combate a opressão.
FOI CULPA DO AGROBOY
O curso de Agronomia da UnB foi, por diversas vezes, cenário para casos de intolerância e violência. Não é difícil ouvir pelos corredores da Universidade casos antigos incorporados ao imaginário de quem pensa em trotes abusivos. Por esta razão, ainda hoje, o curso possui uma imagem negativa quando se fala de recepção de calouros. Para Fernando Boaventura, estudante do 9º semestre, existe um equívoco na visão atrelada ao curso. Ele afirma que a Agronomia já não faz trote há seis anos e passou a adotar uma recepção mais inclusiva e calorosa.
Boaventura faz parte da gestão do Centro Acadêmico de Agronomia (CAAgro) e diz que mesmo sem o envolvimento contínuo com a recepção dos calouros, pois a atividade é de responsabilidade de veteranos diretos, o centro acadêmico busca dar suporte e orientação em casos de denúncias e repudia toda e qualquer forma de opressão. Segundo o futuro engenheiro agrônomo, o curso mudou e com base no diálogo busca identificar possíveis opressões e tomar medidas necessárias. A gestão convida a comunidade acadêmica a conhecer o curso e denunciar casos de abusos.
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