Estudantes da FAC criam grupo de estudo sobre negritude
- Lorany Stefanny
- 23 de set. de 2016
- 3 min de leitura

Com o intuito de entrar em contato com trabalhos produzidos por pesquisadores negros e negras, alunos começaram esta semana a discutir questões raciais no campo da Comunicação|
Incomodados com a falta de representatividade na Faculdade de Comunicação (FAC), os alunos Vinícius Oliveira, de Comunicação Organizacional (ComOrg), e Arthur Menezes, de Audiovisual, decidiram mobilizar os estudantes para promover uma comunidade acolhedora aberta somente para negros e negras. O primeiro encontro aconteceu no dia 15 de setembro e contou com cerca de 30 pessoas. Na ocasião eles decidiram que a melhor forma para o empoderamento seria através do conhecimento teórico escrito por autores(as) negros(as) nas quatro áreas da Comunicação (Jornalismo, Publicidade, Audiovisual e ComOrg). As reuniões acontecerão às terças-feiras, às 18h, sempre na FAC.
Na terça-feira, 20, ocorreu a primeira reunião definitiva como grupo de estudo, em sala de aula da FAC. A doutoranda Kelly Quirino, cujo tema de pesquisa é uma comparação entre o genocídio da juventude negra nos Estados Unidos e no Brasil, expôs seu artigo sobre injúria racial, além de contar suas experiências como mulher negra. Kelly é formada em Jornalismo. Para ela, as cotas raciais são um grande avanço na luta pela ocupação dos espaços de ensino superior, mas ainda faltam suportes psicológicos para auxiliar os estudantes que, muitas vezes, se sentem sozinhos em seus cursos.
Kelly se formou na Universidade Estadual Paulista de Bauru (Unesp-Bauru), e percebeu em Brasília a existência de conflito entre o negro e o local onde vive, seja no centro ou em regiões administrativas. Ela se incomodou com a hierarquização de opressões, pois todos são atingidos pelo preconceito independentemente de onde moram, por isso a importância de se unirem para fortalecer a luta. Na infância e adolescência não teve amigas negras, sofria pelo racismo sozinha, sem ninguém para discutir os assuntos que a incomodavam. Só foi ter esse contato ao chegar à UnB em 2012.
A estudante Milca Orrico, terceiro semestre de Publicidade, se sentiu acolhida ao estar em um espaço onde todos puderam compartilhar suas vivências. Ela relatou que ao ouvir os colegas, além de ter o sentimento de pertencimento, identificou como muitas vezes já sofreu alguma espécie de racismo velado e que só veio perceber anos depois. Ela lembrou de uma ocasião quando, ao terminar o ensino médio e voltar à escola para rever os professores com uma amiga branca, a diretora insinuou que ela não teria capacidade de passar na UnB e a aconselhou a tentar em uma universidade no Piauí.
Vinícius está no terceiro semestre de ComOrg. Antes disso, ele cursou três semestres de Ciências Sociais, onde esteve constantemente em contato com discussões a respeito da negritude, porém só entendeu que era negro ao entrar na Comunicação e constatar que era diferente dos colegas, majoritariamente brancos. Ficava bastante incomodado de estar em debates sobre o racismo em que os únicos que falavam não eram negros, e portanto não tinham entendimento para falar sobre o tema, além de não se deparar com nenhum professor negro na FAC. Ele quer mudar essa realidade, criando com o novo grupo uma ação de boas-vindas especialmente para alunos negros já no próximo semestre.
Filliphi da Costa, terceiro semestre de Jornalismo, contou que as pessoas da periferia passam a ter consciência da importância de discutir sobre a raça ao chegar à UnB que, mesmo sendo um ambiente à parte da cidade, no qual as pessoas têm maior liberdade de se expressar, ainda é hostil. Ele lamentou o fato de a Universidade, e da própria FAC, serem extremamente elitizadas: “As pessoas aqui não querem entender, nos tornam invisíveis, pois estão em uma posição muito confortável”.
Para informações sobre local e temas a serem debatidos no grupo Negros e Negras da FAC no Facebook.
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