Movimento da Polícia Civil expõe embate de gigantes
- Ronayre Nunes
- 19 de set. de 2016
- 3 min de leitura

Busca por isonomia salarial coloca as corporações policiais do Distrito Federal em pé de guerra. GDF limita-se à argumentação de falta de recursos
A população brasiliense vem assistindo a um verdadeiro embate de gigantes nas forças policiais. Um dos principais pontos da disputa é a isonomia salarial entre os agentes de segurança pública. Movimento da Polícia Civil do DF (PCDF) busca reajuste salarial semelhante ao que foi garantido à Polícia Federal (PF). A Polícia Militar do DF (PMDF) já deixou o alerta de que qualquer concessão à PCDF deve se alongar à PM também. O Governo de Brasília se limita a expor falta de recursos.
O conflito de interesses entre as polícias do DF já não é mais inédito, porém neste ano chegou a um nível, no mínimo, mais complexo. Desde o dia 4 de julho a PCDF deflagrou a operação PCDF Legal. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), Rodrigo Franco, explica que o movimento – de acordo com o Sinpol-DF, não pode ser denominado de greve – tem o objetivo principal de: “Exibir o sucateamento da Polícia Civil, principalmente pelo baixo efetivo”.
A operação também tem como meta rever a questão salarial. Segundo a assessoria de comunicação do Sinpol-DF, a categoria busca um reajuste de 37% dividido em três vezes até 2019. O aumento está ligado ao ajuste que a PF recebeu, mas que não incluiu a PCDF. Franco explica ainda que não se trata de a PCDF receber para se igualar financeiramente à PF, mas apenas manter tal conformidade, que segundo ele é histórica.
Para tentar pressionar o governo, a PCDF vem aumentando o tom da operação PCDF Legal. Os agentes pararam de realizar funções duplas que não são suas atribuições, deixando os serviços mais lentos. Além disso, em agosto, policiais civis assinaram um termo se recusando a assumir cargos de confiança. Na prática, a finalidade de tais ações, segundo Franco, é mostrar os problemas que a corporação enfrenta: “A falta de efetivo e boas condições de trabalho traz um atraso no atendimento nas delegacias”.
PMDF entra na briga
A situação é muito mais complexa do que as reivindicações da PCDF. Após a deflagração do movimento PCDF Legal, a PMDF também começou sua própria articulação em busca do reajuste. Em nota pública, a PMDF reitera a necessidade da isonomia salarial entre as forças policiais, inclusive a corporação militar já mostrou ações práticas que reforçam tal necessidade.
Após a ação de agentes da PCDF em não aceitar cargos de confiança, a PMDF deu início a uma megaoperação: a RIC (Redução dos Índices de Criminalidade). O objetivo da operação é aumentar o efetivo nas ruas e reduzir o número de ocorrências, que supostamente teriam aumentado pela operação PCDF Legal da Polícia Civil. Foram empregados cerca de 3.200 agentes, 800 viaturas e todas as unidades especiais da corporação (Rotam, Bavop, Bpchoque, Bope, Rpmon e Bpcães).
A ação da PMDF é vista com ceticismo por Rodrigo Franco: “Todo movimento que busca direitos é justo. Não existe isonomia entre a Polícia Civil e a Polícia Militar. Nós somos regidos (por leis) e temos atribuições diferentes, são papéis diferentes”.
Procurada pela equipe do Campus Online, a assessoria de comunicação da PMDF não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta matéria.
A posição oficial
O Governo de Brasília limitou-se a responder, por meio de nota da Casa Civil, que existem dificuldades financeiras para realizar os reajustes. O governo lamenta que a Polícia Civil não tenha aceitado nenhuma das propostas até agora e garante que está no limite de gastos financeiros.
A nota lembra ainda que: “As propostas oferecidas pelo Governo de Brasília têm o mesmo percentual reivindicado pela Polícia Federal (…), com previsão de 37% de reajuste. A diferença está nos prazos e índices”.
O governo também afirma que é preciso ter cautela com aumento de gastos, principalmente tendo em vista que atualmente: “O governo se depara com um déficit de R$ 1 bilhão para fechar as contas de 2016”. O pronunciamento também legitima o pleito da PCDF e afirma “reconhecimento ao excelente trabalho realizado pelos profissionais da Polícia Civil”.
Questionamentos do Campus Online sobre o reajuste para a PMDF e o desafio da isonomia salarial entre as forças policiais não foram respondidos pelo Governo de Brasília.
Comments